quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Reconhecimento do amor

Amiga, como são desnorteantes
Os caminhos da amizade.
Apareceste para ser o ombro suave
Onde se reclina a inquietação do forte
(Ou que forte se pensa ingenuamente).
Trazias nos olhos pensativos
A bruma da renúncia:
Não querias a vida plena,
Tinhas o prévio desencanto das uniões para toda a vida,
Não pedias nada,
Não reclamavas teu quinhão de luz.
E deslizavas em ritmo gratuito de ciranda.

Descansei em ti meu feixe de desencontros
E de encontros funestos.
Queria talvez - sem o perceber, juro -
Sadicamente massacrar-se
Sob o ferro de culpas e vacilações e angústias que doíam
Desde a hora do nascimento,
Senão desde o instante da concepção em certo mês perdido na História,
Ou mais longe, desde aquele momento intemporal
Em que os seres são apenas hipóteses não formuladas
No caos universal

Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
Sua espada coruscante, seu formidável
Poder de penetrar o sangue e nele imprimir
Uma orquídea de fogo e lágrimas.

Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
Em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria.
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
Que trazias para mim e que teus dedos confirmavam
Ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,
O Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,
Quando - por esperteza do amor - senti que éramos um só.

Amiga, amada, amada amiga, assim o amor
Dissolve o mesquinho desejo de existir em face do mundo
Com o olhar pervagante e larga ciência das coisas.
Já não defrontamos o mundo: nele nos diluímos,
E a pura essência em que nos transmutamos dispensa
Alegorias, circunstâncias, referências temporais,
Imaginações oníricas,
O vôo do Pássaro Azul, a aurora boreal,
As chaves de ouro dos sonetos e dos castelos medievos,
Todas as imposturas da razão e da experiência,
Para existir em si e por si,
À revelia de corpos amantes,
Pois já nem somos nós, somos o número perfeito: UM.

Levou tempo, eu sei, para que o Eu renunciasse
à vacuidade de persistir, fixo e solar,
E se confessasse jubilosamente vencido,
Até respirar o júbilo maior da integração.
Agora, amada minha para sempre,
Nem olhar temos de ver nem ouvidos de captar
A melodia, a paisagem, a transparência da vida,
Perdidos que estamos na concha ultramarina de amar.


O reconhecimento do amor:amor algo que nos leva a ser amigos,amantes e apaixonados dentro destes,desorientados frageis que se deixam levar,nos entregamos ao amor com tudo de ruim que temos e recebemos ao longo do tempo;quando Carlos Drummond diz:"desde aquele momento intemporal em que os seres são apenas hipoteses não formuladas no caos universal";percebemos no momento de formação das idéias que nos pegamos em um tempo nulo,fora do agora onde somos apenas uma eventualidade.Não reconhecemos o amor com medo, sendo covardes,cortantes reluzentes,superiores,delicados,quentes e tristes;vem tranqülo envolvido em doçura e divinos encantos;no jogo de pique-pega onde um pega o outro e o tem em si através dos atos de carinho.Realmente ao amor nos traz uma imaginação repleta de sonhos,nos faz voar,nos ilumina ainda na sombra, nos tornando um;a razao e a experiência não nos importa.Quando DRUMMOND coloca:"Levou tempo,eu sei,para que o Eu renunciasse a vaidade de pesistir fixo e solar,e se reconfessasse jubilosamente vencido,ate respirar o júbilo maior da integração,"percebemos que este ego que temos vai embora com alegria e demora ate se finalizar integrado e aalegre,nó dois enamorados tornando-se um.
Amando e sendo amados nos desligamos deste mundo, nos tornando cegos e surdos diante do mundo de tão perdidos que nos encontramos num fundo lugar além do mar.!!!!!
KELLY,LUARA E WALACE.

Um comentário:

Anônimo disse...

nesse poema mostra que o amor nos torna frageis e que muitas vezes a gente foge dele por medo.no trexo:Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
Sua espada coruscante, seu formidável
Poder de penetrar o sangue e nele imprimir
Uma orquídea de fogo e lágrimas.
existe duas figuras de linguagem na minha opiniao:metafora,pois nao existe espada, nem orquidea de fogo no amor e hiperbole, porque como nao existe nada disso,torna esse trexo e talvez outros em exagero.....